Condomínio de luxo

Meus finais de semana, quando não estão ocupados com ações e reuniões, são passados num lugarzinho muito gostoso.

Nos dois lados da pequena construção tem terrenos ocupados pela Natureza. Do meu lado direito tem muitas árvores frutíferas como jaqueiras, mamoeiros, limoeiros, mangueiras, abacateiros, goiabeiras, jabuticabeiras, bananeiras e outras frutas que não sei o nome. Do meu lado esquerdo, o terreno foi ocupado por pés-de-cana (não o bebum, a doce cana mesmo), flores brancas, rosas, amarelas, coloridas. No meio desta cadeia, fico sentindo-me como uma semente.

Tem uma árvore, do lado das flores, que é a minha preferida. Suas flores são brancas, meio douradas; os frutos são vermelhos, miúdos e em cachos. A cada dois meses o ciclo dessa árvore se renova e nascem muitos cachos. Essa constante floração torna-me uma felizarda pela variedade de pássaros que ouço todos os dias, em todas as épocas do ano.

São muitos sabiás, sanhaços, bem-te-vis e colibris. Há bandos de outros tres que não sei o nome. Um deles é do tamanho de um pardal, com penas que parecem de veludo e bico vermelho. O outro é branco, rabo e pontas das asas preto, com uma faixa escura nos olhos. O último é do tamanho de uma pomba mas extremamente elegante; é todo negro e com cauda comprida. Não é raro, essa árvore receber visitantes forasteiros, como canários, periquitos e maritacas.

Conheço todos de vista, assim como eles pressentem que não tenho intenção de fazer-lhes mal. Eles se acham os donos da casa, empoleirando-se confortavelmente em cima das persianas, no varal de roupas, em cima do armário ou da geladeira. O local preferido deles é em cima da geladeira, onde conservo alguns potinhos com guloseimas passarinhais e água fresca.

Acostumaram-se comigo e já não se assustam tanto quando me movimento pela casa, desde que eu não faça nenhum movimento repentino. Viramos amigos.

Na última primavera foi presenteada com um ninho de sanhaços na casinha de madeira que comprei a alguns meses atrás, com a intenção de começar a montar um "condomínio de luxo",
dentro de minha casa, para esses seres cantantes. O projeto do condomínio era um charme: algumas casinhas numa das paredes laterais da minha sala, muitas plantas penduradas, muitos bebedouros e pratinhos com comida farta. A construção começou na compra dessa casinha e infelizmente, por conta de minhas atividades, parou por aí. Não sabia se conquistaria algum inquilino mas é algo que vale tentar.

Não precisei me preocupar com o restante do projeto. Um casal de sanhaços gostou da localização dessa primeira casinha, largada na prateleira da área de serviço, ao lado do basculante que tem em cima da janela de correr.

Meus inquilinos não se importavam que eu usasse a cozinha mas a circulação pela área de serviço foi terminantemente proibida por eles. Qualquer ameaça de minha parte, aproximando-me da área de serviço, provocava reclamações desesperadas da futura mamãe e vôos com imprecações em língua de passarinho da parte do papai - só quem está acostumado a ouvir pássaros, sabe que eles tem um canto diferente, de queixa e zanga. Tive que esquecer a máquina de lavar e comprei um tanque pra colocar no quintal.

Acompanhei a espera dos filhotes, o nascimento, as aulas de vôo, a alimentação no bico, as visitas que receberam. Depois de deixarem-me mal acostumada com a presença deles, suas bagunças e cantorias, sem maiores explicações abandonaram a casinha.

Continuam a visitar os potinhos em cima da geladeira e são os mais escandalosos na hora de pedir pra trocar a água. O filhote é mais abusado que os outros e o único a entrar no meu quarto e ficar xeretando tudo. Talvez por ter nascido aqui e conhecer meu cheiro desde o nascimento.

No último domingo esse abusado extrapolou: pousou na minha cabeça enquanto eu estava sentada, quietinha, tentando organizar alguns eventos antes de colocá-los no papel. Sem a menor cerimônia, achou-se no direito de ficar bicando minha cabeça e dessarrumando meu cabelo para afofar uma caminha. Deitou-se, ficou alguns minutinhos, levantou-se e foi brincar com os amiguinhos na árvore de cachinhos vermelhos.

Decidi que preciso de um chapéu. :)

Este é o mais recente abusado, um bem-te-vi que cismou de me usar como plataforma para aprender a voar. Muito fofo, não?




Bjs

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