Saudades de tuas cores, Zimbabwe!

Hoje acordei com saudades de Zimbabwe. Não é lugar "da moda" em roteiros de viagens mas é um lugar que conquista à primeira vista.

Segundo meu passaporte, daqui a pouquinho estará completando três anos de minha segunda e última visita ao país. Fiquei cinco dias a menos do que da primeira vez, entretanto, os passeios fizeram valer como se tivesse ficado o dobro do tempo.

Não diriam que o Brasil é um país de contradições se conhecessem Zimbabwe. Naquelas paragens tanto choramos pela magnífica e espetacular beleza quanto pela sórdida política imposta por Mungabe.

Robert Mugabe subiu ao poder em 1980 e ainda dita as (des)ordens por lá. A história dele até que é bonita, bem nacionalista. Porém, como dizem os sábios, só conheceremos o caráter de alguém quando damos-lhe o poder. De herói de um povo a um cruel sanguinário bastou-lhe tomar as rédeas da nação. Observação: alguns noticiários tentam diminuir ou até zerar a importância de Mugabe no Zimbabwe de hoje. Pura ilusão! É ele e sua família que ainda mandam e desmandam nos horizontes zimbabweanos (corrupção, roubos, torturas, assassinatos, massacres, povo na miséria, desemprego a 80% e inflação de cem mil por cento).

Quando estive em Ébora, notei a preocupação do povo português com os destinos daquele país africano. Os poetas zimbabweanos são declamados por toda parte, numa iniciativa contra as violações de direitos humanos no Zimbabwe. A explicação dessa "preocupação" lusitana está na própria história de Zimbabwe, ainda quando se chamava Rodésia. É que os ingleses "tomaram conta" enquanto os portugueses se achavam donos da terra. Sentem-se roubados mas no fundo eles sabem que se estivessem no lugar da Inglaterra, o mesmo destino (ou pior, se compararmos com o que fizeram com nosso Brasil) teria sido imposto: exploração pura.

Os poetas daquele recanto da África imprimem com exatidão esse sentimento. Alinham o pôr do sol no rio Zambeze ou a alvorada no lago Kariba (ambos na fronteira com Zâmbia) com o Gukurahundi (tradução do shona: o início da chuva que varre o debulho afastado antes das chuvas da primavera).

Nota: Leia sobre Chenjerai Hove, Chirikuré Chirikuré e Dumbudzo Marecharas, que dividiram as atenções com Isabel Allende, Mario Vargas Llosa e Mia Couto no Festival Internacional de Literatura de Berlim, entre 04/09 e 16/09/2007. Representando a literatura brasileira, João Cabral de Melo Neto, Reginaldo Ferreira da Silva e Henriques Britto. Arnaldo Antunes e Chico Cesar deram show para aproximadamente 10 mil expectadores.

A língua Shona lembra-nos os estalidos das castanholas e não há nada que impeça-nos de parar ao ouví-los conversar. A força da atração que provocam nos impedem de seguir nosso rumo. Não sei se podem se encaixar entre os dialetos bantos mas acredito que sim.

E as cores? Fauna, flora e paisagens são um amontoado harmônico de cores sem fim. Do lagarto ao artesanato de Bulowayo. Do céu das savanas ao arco-íris de Victoria Falls.

Essa saudade sei de onde vem. Vem do céu ultimamente cinza do meu Rio de Janeiro. Vem das obras intermináveis pra levantar meu barraco (falta tanto pra acabar). Vem da falta dos pássaros a vim bebericar de meus bebedouros, ocupados que estão em conquistar as fêmeas. Vem da ausência das risadas das crianças que ocupavam as ruas sem chuva. Vem da falta de ouvir a gritaria de minhas sobrinhas, distorcendo meu apelido de família.

a poem for Zimbabwe
(um poema para Zimbabwe)

i am the only one
you are the only one.
(sou somente um
somos somente um)

the birds and the rivers
sing to me,
they speak in your voice.
(os pássaros e os rios
cantam pra mim
eles falam em nossa voz)

if i fall silent
you will be silent too.
if i fall silent
your wounds will be named silence.
(se silencio
vocês serão silenciados também
se silencio
suas feridas serão chamadas silêncio)

i am a piece of you
and you are a piece of me.
(sou uma parte de você
e você é uma parte de mim)

the blood in my veins is you.
listen to the rhythm
of the stream of my blood
and the echoes from the hills,
mixed with gentle ripples
of the waters in the fast stream.
(o sangue em minhas veias é seu
ouça o ritmo
do córrego em meu sangue
e os ecos das serras
misturados com suaves ondulações
das águas velozes do córrego)

but with time
you will hear your voice
in the blue skies of my heart.
(mas com o tempo
você vai ouvir a sua voz
no céu azul do meu coração)

in the dark clouds of my soul
you will hear a voice
that tells the story of your forgotten voices
of birds long dead
of elephants crippled by guns
of orphans you do not deserve.
(nas nuvens negras da minha alma
você vai ouvir a voz
que narra a história de suas vozes esquecidas
dos pássaros à muito mortos
de elefantes minados pelas armas
de órfãos que não mereçem.)

© 2003, Chenjerai Hove
Livro: Blind Moon
Publicação: Weaver Press, Harare, 1985
ISBN: 1779220197

Beijinhos

Elida Kronig, a original

Notícia do dia 13/10/2008 17:05:00

União Européia ameaça Zimbábue com novas sanções

A União Européia (UE) ameaça o regime do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, com novas sanções por sua "decisão unilateral" de formar um Governo sem o consenso da oposição, o que descumpre o pacto de união assinado em 15 de setembro.

O Conselho de Assuntos Gerais e Relações Exteriores da UE pediu a Mugabe que cumpra o pacto, que foi obrigado a assinar com o opositor Morgan Tsvangirai, após 28 anos no poder.

Há dois dias, como não chegava a um acordo quanto a divisão dos ministérios, Mugabe anunciou, de forma unilateral, que assumiria o controle das pastas de Defesa, Finanças e Interior.

A UE também expressou sua "preocupação" com a situação humanitária no país africano, que acaba de receber uma ajuda adicional de 10 milhões de euros da Comissão Européia (CE).

As informações são da Agência EFE

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