Lenda do Urutau

Conta a lenda que Nheambiú, uma bela moça, filha do Tuxaua da nação Guarani, se apaixonou profundamente por um bravo guerreiro Tupi chamado Cuimbaé, que havia sido feito prisioneiro pelos Guaranis.

Nheambiú pediu aos seus pais que consentissem no seu casamento com Cuimbaé. Porém, esse e os posteriores pedidos foram terminantemente negados, com a alegação de que Cuimbaé era um Tupi, ou seja, um inimigo mortal dos Guaranis.

Não suportando mais o sofrimento, Nheambiú desapareceu da Taba, causando um enorme alvoroço.

O velho cacique mobilizou então todos os seus guerreiros para que procurassem, por todo o lado, a sua preciosa filha.

Após uma longa busca, a jovem foi encontrada no coração da floresta, paralisada e muda, como uma estátua de pedra. Ao vê-la, o pai sacudiu-a, mas ela não deu nenhum sinal de vida.

Então, o seu pai mandou chamar o feiticeiro da tribo, que a examinou dizendo o seguinte ao cacique:
- Nheambiú perdeu a fala para sempre; só uma grande dor poderá fazer Nheambiú voltar ao que era.

Então começaram por informar a jovem índia de todas as notícias mais tristes possíveis: a morte do seu pai e a de todos os seus amigos.

No entanto, nada surtiu efeito. A jovem continuou inabalável e intacta.

Então o pajé da tribo aproximou-se e disse:
- Cuimbaé acaba de ser morto.

Nesse mesmo instante, o corpo da jovem moça estremeceu todo e ela, soltando repetidos lamentos acabando por desaparecer da mata.

Todos os que ali se encontravam, cheios de dor, acabaram transformados em árvores secas, enquanto Nheambiú se transformou num Urutau ficando a voar, noite após noite, pelos galhos daquelas árvores amigas, chorando a perda do seu grande amor.
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O Urutau é um pássaro solitário e de hábitos noturnos que dificilmente se deixa ver. Não constroem ninhos. Põem um único ovo num oco de galho de árvore e este ovo é chocado pelo macho. O tempo de incubação dura, aproximadamente, 33 dias. O filhote permanece mais 51 dias no ninho, um dos períodos de desenvolvimento mais longos para as aves no continente americano.

O pássaro adulto possui cerca de 37 centímetros de comprimento e 160 gramas de peso. A sua cor parda em tons de canela com riscas transversais e escuras permite-lhe adaptar-se perfeitamente ao galho da árvore, passando completamente despercebida. Lentamente, ele estica o corpo e levanta a cabeça até a cauda tocar o tronco. Sem abrir os olhos, a camuflagem se torna tão perfeita que o inimigo não consegue percebê-lo. Com isso, confunde-se com uma ponta de galho seco ou o prolongamento de uma estaca, uma camuflagem chamada "mimetismo de galho".

Muitas vezes é confundido com uma coruja porque possui olhos grandes e desproporcionais ao tamanho da cabeça larga e achatada. À noite, quando iluminados por uma lanterna, os olhos refletem uma luz avermelhada, visível a grande distância. Os olhos enormes são de grande utilidade para a sua vida noturna porque favorecem a entrada da luz no cristalino permitindo uma visão noturna privilegiada. Mas isto não é tudo. As pálpebras superiores do urutau possuem fendas que permitem que "veja mesmo com os olhos fechados". É por esse "olho mágico" que ele consegue enxergar em todas as direções sem precisar mexer muito a cabeça. Esta fenda também controla o movimento que ele faz quando algum predador se aproxima.

O urutau só dorme quando se sente totalmente seguro. A boca do urutau é enorme e muito parecida com a do sapo cururu, rasgada de tal forma que os seus ângulos alcançam a região posterior dos olhos. Essa aparência assustadora é usada como arma para afastar a maioria dos predadores e, é lógico, para facilitar a ingestão das suas refeições. Sai à noite para se alimentar de insetos noturnos, em especial de grandes mariposas, borboletas, cupins e besouros. Ele caça em vôo, nunca pousa no chão, preferindo voar alto de uma árvore para outra.

O seu grito é, provavelmente, o mais pavoroso de quantos se conhecem no mundo das aves. Em forma de "hu-hu-hu", que se faz ouvir após o anoitecer, procura, a solidão mais espessa dos bosques, de onde faz desprender a sua voz cheia de lamentos. Para muitos, a sua voz é semelhante ao clamoroso lamento de uma mulher que termina com amortecidos "ais". O seu canto provoca, portanto, espanto e piedade aos que possam ouvi-lo e é também fantasmagórico. "Meu filho foi, foi, foi" - interpreta o povo. Se você possuir o windows media player, poderá ouvir o canto do urutau (wma).

O Urutau é um pássaro que pertence à Ordem dos Caprimulgiformes, família dos Nyctibiidae. No Brasil, ocorrem as seguintes espécies: Nyctibius grandis (Urutau, Mãe-da-Lua Gigante); Nyctibius griseus (Urutau) e Nyctibius aethereus (Mãe-da-Lua Parda). Este pássaro habita na região norte e nordeste da Argentina, nas matas do Paraguai, no Norte do Uruguai e do Brasil, onde lhe são atribuídos vários nomes: Jurutaui na região amazônica; Ibijouguaçu entre os Tupis e Mãe-da-Lua entre os mineiros. Estas designações correspondem a diversas regiões linguísticas: à dos tupis e guaranis e à do idioma quichua.

Devido à sua existência misteriosa, o Urutau além das lendas é objeto de práticas supersticiosas. A par da voz queixosa e plangente, uma quase invisibilidade, confere-lhe o carácter de um ente misterioso. Muitos não o tomam por uma verdadeira ave, mas sim por um ser fantástico, inacessível à mão e aos olhos humanos. Já outros, porém, não duvidam de sua existência, mas consideram-no como um ente enigmático e superior, dotado de muitas qualidades fora das leis naturais, entre elas, o preservar das seduções e a pureza das jovens moças.

Conta-se que antigamente, matavam para esse fim uma dessas aves e tirava-se a pele que era, posteriormente, seca ao sol. Esta servia para os pais sentarem as suas filhas, nos três primeiros dias a partir do início da puberdade. No términus desse tempo, as jovens saíam "curadas", isto é, invulneráveis às tentações das paixões desonestas que as pudessem atrair. As qualidades sobrenaturais deste pássaro destacam-se nas crendices populares. As penas e a pele do urutau são para muitas pessoas bastante milagrosas. Assim, se para muitos o Urutau é, muitas vezes, associado a maus presságios, para outros e, segundo a mitologia Tupi-Guarani, trata-se de uma ave benfeitora (abençoada).

Os Guaranis acreditavam que partindo-se as asas e as pernas do pássaro durante a noite, no dia seguinte ele amanhecia perfeito. Segundo algumas crendices indígenas, esta ave noturna revestia-se de atribuições que são inerentes ao Cupido. As penas do Urutau eram eficazes talismãs de amor. Assim sendo, aquele que conduzir uma de suas penas, atrai a simpatia e o desejo do outro sexo; que se consegue qualquer pretensão com a escrita com uma de suas penas.

Dizem que foi dessa lenda que se originaram algumas superstições populares relativamente ao Urutau.

Uma dessas lendas, fala-nos de Jouma, um cacique dos Mocovies (Guaranis) que , surpreende a Marramac, nos braços de um estrangeiro e o mata com flechas. Porém, perde posteriormente a razão e transforma-se num Urutau.

Segundo uma outra versão, o Urutau é um menino, órfão de pai e mãe, que passa a vida muito triste, chorando a perda dos seus progenitores. Fita o Sol e a Lua e, quando os astros desaparecem, não faz mais do que lamentar-se.

Contava uma lenda também, que o urutau foi uma pessoa que não quis visitar o Menino Jesus, e por isso hoje chora arrependido de Novembro a Janeiro.

Outra lenda diz que "carta de amor escrita com pena de Urutau tem sempre resposta favorável".

Já outra diz que a pele dessa ave preserva as donzelas dos deslizes e as protege contra os alheios de intenções menos honestas.

Acreditava-se ainda, que as suas penas e as suas cinzas eram remédios contra doenças.

Há também quem diga que, na Amazônia, há o costume de varrer o chão, sob o véu das noivas, com as penas da cauda do Jurutauí (designação pela qual o Urutau é conhecido nesta região), a fim de se garantir para as futuras esposas todas as virtudes do mundo.

Outra das crenças mais curiosas no poder sobrenatural do Urutau é a que faz referências à sua posição face ao ciclo solar. Quando o sol nasce o pássaro volta a sua cabeça para ele e acompanha-o no seu percurso. Quando o astro caminha para o Poente, começa então a entoar o canto dolorido "U - ru - tau". Conta-se também que, Couto de Magalhães elevou o Urutau à categoria dos deuses, reservando-lhe o segundo lugar da sua teogonia Tupi. Todas essas considerações, entretanto, levam-nos a classificar o Urutau como um pássaro feérico (mágico), que existe por direito próprio.

Bjs

Ek

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