Um dia, em família

Num 02 de abril qualquer...

Depois de um primeiro de abril, eu tinha mesmo que dar as caras, né?

Num dia como o de ontem, fico lembrando as brincadeiras infantis com um bando de amigos e as centenas de primos. Eu gostava mesmo era quando um tio, o mais velho, juntava a criançada para brincar de Bento Frade, que a maioria conhece como a Boca do Forno. Meu tio começava: Bento que bento é o frade, nós respondíamos: Fraaaaade!
Ele dizia "na boca do forno", respondíamos "foooorno" e assim por diante. Lembraram?

O mais gostoso eram as tarefas. Numa época de respeito aos mais velhos, quando levávamos bronca só com uma olhada de nossos pais sem a necessidade deles dizerem uma palavra, recebermos como tarefas ações que chegavam a ser uma afronta como: dar um tapa no bumbum da avó, chamar uma tia de chata, puxar a orelha de outra, arrancar o chinelo do avô, jogar bolinhas de papel no chão da sala, trocar panelas de lugar e eteceteras eram a nossa glória. Ganhávamos o direito de aprontar todas e o mais incrível, os mais velhos achando graça de tudo. A criançada se sentia poderosa, dona do mundo. Ríamos pelo prazer de fazer o impossível e o proibido.

Depois de algumas tarefas, aparecia nossa avó dando bronca no nosso "mestre":
- Você parece mais criança que as crianças!
O problema é que a bronca vinha acompanhada de gargalhadas. Ninguém levava a sério e as tarefas continuavam piores que as primeiras.
Com gargalhadas, a família de minha mãe nunca teve problemas. Faz um "bu" que o povo se escangalha de rir. Não tenho a quem puxar, tenho quais puxar...

A brincadeira só acabava quando começavam os serviços na cozinha. Era hora de dar uma voltinha pelas ruas próximas, geralmente até uma ou outra casa vazia e com muitas árvores no quintal. Pulávamos o muro e subímos para catar frutas. Comíamos ali mesmo e quando ficávamos saciados, juntávamos um monte pra levar pra vovó. Viravam refrescos e sorvetes deliciosos.

Depois do almoço, titio ia tirar uma sonequinha. Abandonadas, ficávamos meio jururus até alguém ter uma boa idéia pra brincar. De vez em quando, íamos verificar se nosso tio ainda estava dormindo. Tínhamos que capturá-lo antes de começarem as rodadas de buraco e sueca dos adultos. Claro que jamais atingimos nosso objetivo.

No final do dia passávamos pelo sacrifício de parar de brincar pra tomar banho e lanchar. Não que não gostássemos de banho mas a hora do banho vinha sempre numa hora imprópria. Sabíamos que depois não poderíamos voltar pra rua, os pais não deixavam senão íamos nos sujar.

Depois de um dia inteiro agitados era difícil nos manterem quietos em casa. A solução era brincarem conosco e vinha a hora do Sargento Tainha, Espadachim, Morto ou Vivo... Sempre com vovô no comando. Minha tia baixinha vivia saindo correndo pro banheiro, quase fazendo xixi nas calças.

Família... Não é à toa que são nosso alicerce. Qual a diferença entre as famílias dos "com mais de quarenta" para as famílias dos "menos de vinte"? Apenas um clique... no "off" da telinha.

Beijinhos.

Elida Kronig, a original

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