O dragão do Euro

Creio que devo provocar profundas alterações no meu círculo social para que não me sinta tão Filha de Marte. A crise do euro é descrita como "uma crise como outra qualquer" pelo meu povo. Não consigo ver assim, sei que não é uma crise qualquer. Europa é o berço do mundo moderno, o que estamos vivenciando trará mudanças ao futuro. Mudou a direção da cultura, dos negócios e da educação. Mudou vidas, mudou conceitos, mudou perspectivas. Continua mudando, alterando o futuro. Como mudou, saberemos quando os movimentos tectônicos cessarem a pequenos tremores, quando a poeira baixar, quando os analistas terminarem de colher todos os cacos para seus infindáveis e longos relatórios e, finalmente, quando os livros de história relatarem as profundas consequências.

Deve ser minha imaginação e esse péssimo hábito de relacionar as notícias. A corrida do ouro no Brasil, que deu fundação a algumas cidades mineiras e foi um infeno na década de 70/80, deve ter sido um evento isolado do resto do mundo e provavelmente é o mesmo que acontece na terceira corrida do metal na história de nosso país.

Aquela azulzinha S.A. que este governo (federal, fechada) fundou não tem nenhuma ligação com as questões das crises econômicas e políticas do restante do mundo ou com a salvação dos bolsos. O povo paga a administração, as pesquisas, os produtos mas, se der lucro, este vai para a S.A. Ninguém sabe o que é isso mesmo, que diferença faz?

É um absurdo eu afirmar com tanta convicção que nossos atletas não obtiveram mais e melhores resultados nas Olimpíadas porque não contam com bom suporte e infraestrutura para se desenvolverem. Para que serve o esforço próprio, a força de vontade, a garra? Só com esses três elementos, sou capaz de jurar, com todos os dedos cruzados nas costas, que é mais do que suficiente para alcançar bons resultados.

Nem falarei no Congresso. Amo a relação de amor e ódio que mantemos desde os tempos pré-históricos, quando existia uma matéria muito esquisita, que chamavam de Moral e Cívica e ainda uma outra, mais esquisita ainda, que nos apresentavam como uma janela do mundo dos sonhos, uma tal de OSPB. E a mais estranha ainda era a tal da Educação Social, que fazia um mix bem comportado de uma série de conceitos. Pré-história. Tempo da pedra, não de plásticos; se é que me entendem. :)

Não resisto à política, é o que mais me diverte. Por acaso tiveram curiosidade para visitar o eCidadania, do senado? Provavelmente você nunca ouviu falar, vou te contar o que é.

O eCidadania foi criado pelo Senado para que o povo pudesse sugerir debates na Casa. Quando um tema atinge 20.000 votos, o assunto é debatido pelos senadores e deputados federais. Você pode não acreditar mas é debatido sim. Como nem tudo funciona como deveria, sugeri como "Ideia" (é o título do tema no eCidadania), a vinculação da remuneração dos políticos com o salário mínimo, para evitar a discriminação que se faz entre estes que não trabalham e o povo que trabalha e, afinal, é o que arca com os custos de um sistema caro e ineficiente. Publicaram tudo trocado e uma semana depois despublicaram.

Alguém sugeriu que os hospitais particulares aceitassem todos os planos de saúde. Foi outra ideia que não deixaram por mais de uma semana no site. Apesar da descarada censura, dá para encontrar algumas poucas ideias interessantes, como a do cidadão que pede o Fim da verba de Gabinete. Tem algumas ideias que rendem boas risadas, como "adicionar 1h ao fuso horário do Brasil" (?!). Tem uma que pede "Alíquota única (10%) no Imposto de Renda de Pessoas Físicas", sendo que grande parte dos cidadãos que não sonegam pagam 7,5% de IR. E tem as repetitivas que me fazem rezar 7 Rosários: currículo escolar.

Coitados dos estudantes! A reforma do Brasil, segundo o brasileiro, não é avaliar em quem votar, nem acompanhar e fiscalizar os debates de nossos políticos e menos ainda, fiscalizar. A solução para tudo é entupir a cabeça dos jovens, interná-los por mais de 16 horas numa instituição de ensino para que aprendam: leis de trânsito, leis do consumidor, direito constitucional, bíblia. Fora da lista, algumas outras sugestões com as quais me deparei fora do eCidadania: contabilidade, economia doméstica, culinária, empreendedorismo, entre outras que não lembro mais. Junta-se a estas disciplinas, o português, a matemática, a história e a geografia, a literatura, o inglês, a educação física, a física e a química, a filosofia e a sociologia, a biologia, as artes, a informática. A escola do meu filho ainda tem redação, produção de texto e comunicação separadas das aulas de português.

Quando entenderão que não é o currículo e sim o sistema educacional como um todo que está falido? Enquanto não pensarem como os jovens para entenderem o universo deles e, a partir daí, gerar profundas mudanças no sistema educacional, o aumento de disciplinas e da carga horária vai provocar o aumento do desinteresse pela escola e a queda no aproveitamento. Encerrar os jovens numa escola o dia inteiro é a solução típica que mais parece o jogo de jogar a batata quente para o outro.

O Brasil continuará sendo uma incógnita até o fim dos tempos.

Mistério da semana: Por que pagamos (muito caro) pela construção e reforma de rodovias e ainda seremos obrigados eternamente a pagar gordos pedágios antes (bem antes) da entrega do serviço completo? R$ 133 BIlhões em concessões? Está certo! Que tal fazer um contrato desses comigo? Proponho que você pague pelos custos do meu serviço e quando eu estiver em 10%, você me deixar cobrar eternamente pelos resultados. Você fica com todo ônus e eu fico com todo bônus, fechado? É um negócio imperdível, te garanto!



Bjs carinhosos

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